19 de abr. de 2011

CURITIBA, A CAPITAL DO AUTOMÓVEL!

André Caon reclama da falta de calçadas seguras e sem obstáculos  


Ciclista e pedestre em 2.º lugar

Especialistas apontam que falta planejamento urbano para quem quer se locomover a pé ou com a magrela em Curitiba. Os investimentos, em grande parte, são para os carros
Publicado em 18/04/2011 | GABRIEL AZEVEDO



Em Curitiba tudo conspira contra o uso da bicicleta. Nas palavras dos próprios ciclistas da capital paranaense, a qualidade das calçadas, o desrespeito dos motoristas, a falta de ciclovia e de ciclofaixas, a temperatura instável, tudo serve para desestimular as pedaladas. E não é só isso. Os pedestres também reclamam.
O problema é que a quantidade de espaço para pedestres, por exemplo, não aumentou, en­­quanto o número de veículos cresceu, segundo o ex-presidente da Urbanização de Curitiba (Urbs) e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) Carlos Eduardo Ceneviva. “Cu­­ri­tiba poderia elaborar ruas preferenciais para pedestres e aproveitar que a parte sul da cidade é plana. Mas falta uma política, falta um pouco mais de ênfase nessa questão do pedestre e do transporte público”, diz.
Por uma sociedade do pedal
Existe uma alternativa simples para resgatar as ruas como um espaço público de convivência. Cidades realmente inteligentes perceberam isso e saíram na frente implantando a bicicleta como modal de transporte urbano. Incentivar o uso das bikes não é algo que exija obras faraônicas ou grandes investimentos, mas sim visão de futuro e boa vontade política.
Brasil tem 35 mi de carros e 70 mi de bikes
Talvez seja difícil de acreditar, mas a bicicleta é o meio de transporte mais usado no país. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclo­­­motores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o Brasil é o 3.º maior produtor e o 5.º maior consumidor de bicicletas do mundo, com 5,7 milhões de unidades produzidas e consumidas em 2009. Enquanto existem cerca de 35 milhões de carros nas ruas do Brasil, segundo o Departamento Nacional de Trân­­­sito (Denatran), o número de ma­­grelas atinge o dobro: são 70 mi­­­­lhões de bikes circulando.
É difícil visualizar tantas bicicletas pelas ruas porque elas se concentram mais nos bairros. Dados da Abraciclo mostram que apenas 18% das bikes são usadas para fins recreativos e esportivos. No Brasil, 50% dos ciclistas usam como o principal meio de transporte.
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), com 2.825 pessoas de Curitiba, mostra que 86% dos ciclistas usam a bicicleta para ir trabalhar. Para 43% dos ciclistas, o maior problema é a falta de ciclovias. Para 41,3% dos usuários, a maior dificuldade são a falta de respeito dos motoristas.
Para André Caon, presidente de uma ONG em defesa dos pedestres, a Sociedad Peatonal (So­­ciedade dos Pedestres), nos últimos anos todos os investimentos em Cu­­ri­­­tiba foram direcionados para o carro e para a especulação imobiliária. “Aquele que an­­da a pé ou de bicicleta, aquele que precisa da calçada, foi passado para trás. Nos últimos 30 anos, todos os investimentos públicos foram direcionados para o automóvel e os imóveis. Basta olhar a qualidade das calçadas da cidade”, protesta.
Falta de educação
A falta de respeito dos motoristas com os ciclistas é um ponto negativo que desestimula o uso da bicicleta. A mudança de cultura é apontada como o primeiro passo para que esse modal seja mais usado na cidade. “Os motoristas precisam entender que o usuário de bicicleta está desafogando o trânsito. O motorista apressado e mal-educado não compreende que as pessoas usam a bicicleta como meio de transporte”, afirma o ciclista Oscar Cidri.
Para o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt, os ciclistas reclamam muito do comportamento dos automóveis, mas os motoristas também reclamam dos ciclistas. “Aqui se tem uma cultura de trânsito que não leva em conta o respeito. É raro um ciclista, por exemplo, que respeita o semáforo”, diz.
Para o coordenador do Grupo Transporte Humano e um dos fundadores da União dos Ciclistas do Brasil (UCB), Luís Cláudio Patrício, o primeiro passo é reconhecer a bicicleta como um meio de transporte. “A demanda dos ciclistas não é por ciclovias, mas por ruas cicláveis, com sinalizações adequadas. Algo que torne o trânsito amigável, o que já é por si só um incentivo para quem pensa em andar de bicicleta”, afirma.
Na opinião do coordenador de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo (UP), Orlando Pinto Ribeiro, para que a bicicleta possa ser um modal da cidade e, assim, auxiliar na mobilidade, algumas ruas poderiam ter circulação preferencial para as magrelas. “Ruas não binárias que têm tráfego muito pequeno poderiam ter acesso exclusivo para carros dos moradores e serem preferencialmente de uso de ciclistas”, afirma.
Plano Cicloviário
Atualmente o Ippuc trabalha na elaboração de um plano cicloviário. Ele faz parte do programa Pedala Curitiba, que além de construir novas ciclovias e ciclofaixas, prevê a recuperação da malha cicloviária atual. Segundo o projeto, as calçadas de asfalto serão analisadas e poderão ser incorporadas à infraestrutura cicloviária da cidade.
O projeto é elaborado em parceria com as Secretarias Mu­­nicipais de Obras e Meio Am­­biente e a Diretran. A intenção é detalhar a sinalização das ciclovias, a partir do que prevê o Código de Trânsito Brasileiro, tan­­to para as de uso preferencial como para as compartilhadas. Um levantamento apontará tam­­bém ruas onde, no futuro, o uso da bicicleta poderá ser facilitado. Procurado pela reportagem, o Ippuc não retornou o pedido de entrevista para detalhar o plano até o fechamento dessa edição.


BICICLETADA CURITIBA - PARA UM MUNDO VERDE from Beto Varella on Vimeo.



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Um comentário:

  1. Anônimo10:42 PM

    ESSA É A NOSSA CAPITAL ECOLÓGICA, PLANEJADA APENAS PARA OS CARROS E ÔNIBUS, AFINAL O ESPORTE DO NOSSO EX-PREFEITO E ATUAL GOVERNADOR É O AUTOMOBILISMO. E COMO FICAM OS PANÇUDOS QUE VÃO DE CARRO ATÉ A PADARIA DA ESQUINA???? CADA POVO TEM O GOVERNANTE QUE MERECE. Ique

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